terça-feira, 29 de março de 2011

Artistas Cristãos em um mundo secular...


Com o passar dos anos tenho encontrado mais de meia dúzia de irmãos tentando lidar com a ideia de estarem envolvidos com “música secular”, sendo cristãos. E este é um longo debate. Mas, enquanto convivo com gente que tenta entender a vontade de Deus para esse grande dilema, pude perceber alguns princípios que podem ser aplicados além da área específica da música. Os músicos não são as únicas pessoas com esse tipo de problema.

O que quero dizer é:

E um cineasta cristão? Ele ou ela só poderão participar de festivais de filmes cristãos??
E um cara com dom para poesia beat¹? Ele terá de se afastar de saraus em ambientes seculares?
E um escritor trabalhando em um romance? Quanto “material cristão” será necessário em seu livro?

Então, o que devemos pensar sobre cristãos estarem envolvidos em movimentos “seculares”? É sempre errado? É algo que devemos incentivar?

Quero listar alguns pensamentos que tenho compartilhado ao longo dos anos com pessoas que estavam tentando achar a vontade de Deus para suas vidas, na área da música; mas não acho que é difícil ver conexões com outras áreas, como arte, cinema, etc.

Então, vamos explorar esses princípios juntos.

A questão mais importante


O ponto mais importante para questionar (e, às vezes, o mais difícil de responder) é: “Quais são os meus motivos para querer me envolver com a música secular?” A Palavra de Deus é clara: “Portanto, quer comais, quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus” (1 Co 10.31). Isso inclui a nossa arte.

Embora eu nunca presuma que os motivos de alguém serão completamente puros, existe uma diferença significativa entre quem vive para tocar nos palcos e quem vive para servir aos outros com seus dons.

Se houver qualquer dúvida sobre porque quero tocar fora da igreja, é uma boa ideia pedir a pessoas a quem respeito uma avaliação honesta dos meus motivos.

Redefinindo “sucesso”


O sucesso de um cristão no mercado não é, de nenhuma maneira, sinal de que o Reino está avançando ou que o Evangelho está sendo proclamado. O ímpio pode ser rico e famoso também (Sl 73.12).

Um hit não é necessariamente um sinal da bênção de Deus. Pode ser resultado de uma boa divulgação ou de uma grande musicalidade. Em muitas músicas que misturam o secular e o cristão, a letra falha em comunicar qualquer coisa que a distinga como cristã. Além disso, quando uma canção cristã se torna popular, as pessoas podem presumir que não há diferença entre músicos seculares e cristãos – é tudo sobre música e dinheiro.

Redefinindo “secular”

Uma música secular não é necessariamente anticristã ou ateia.

Há inúmeros exemplos de canções populares que apresentam valores morais, perspectivas profundas e comentários significativos sobre a vida e que não façam referência direta às Escrituras. O sucesso de músicas como “I Can Only Imagine”, “Butterfly Kisses”, e “Meant to Live” é clara evidência disso. (E, se você não gosta dessas músicas… apenas continue comigo nesse argumento…). Podemos usar nossa música para entreter, sem glamourizar ou promover os ídolos do materialismo, orgulho e egocentrismo.

Julgando Caridosamente

À distância, não podemos estar corretos quanto às motivações de um artista.

Enquanto podemos tirar conclusões sobre a vestimenta de alguém, sua linguagem, atitudes e ações, é difícil dizer a diferença entre um rebelde não salvo e um crente desinformado. Poucos de nós se sairiam bem se os detalhes de nossas vidas fossem publicados para milhões de pessoas lerem e criticarem. Isso não significa que os músicos que se declaram cristãos estão acima da avaliação ou julgamento público. Significa apenas que, na maioria dos casos, devemos focar mais nas diferenças do que em expressar julgamentos finais. No mínimo, nossas orações por um artista devem ser iguais à nossa crítica pública.

Sem desculpas para renunciar

Estar envolvido na música secular não é justificativa para abandonar a igreja ou minimizar nossa fé.

Um músico cristão pode não cantar abertamente sobre a salvação ou a cruz, ou não tocar música composta por cristãos. Mas nunca podemos afirmar que o nosso cristianismo fica em segundo plano e a nossa musicalidade em primeiro. Não existem músicos que por acaso são cristãos. Nossa identidade como cristãos deve direcionar tudo o que fazemos. Assim como Paulo, devemos estar aptos a dizer: “Para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Filipenses 1.21)

Em um pequeno e desafiador livroentitulado Imagine: A Vision for Christians in the Arts, Steve Turner escreve: “Às vezes eu escuto cristãos justificarem a menção de seus pontos fracos em sua arte porque ‘Eu sou um pecador, como qualquer outro’. Isso não é verdade. O cristão não é um pecador como qualquer outro porque o cristão é um pecador perdoado, e isso altera sua relação com o pecado”. Basicamente, a cruz muda tudo. O Evangelho redefine as nossas prioridades, redireciona as nossas paixões, e reformula nossa visão de mundo. Agora vivemos toda a nossa vida “pelas misericórdias de Deus” (Rm 12.1).

A Influência do Evangelho

O mundo precisa ver, em todas as áreas, pessoas que tenham sido genuinamente transformadas pelo Evangelho.

Músicos cristãos inseridos no mercado secular têm a oportunidade de influenciar não-cristãos não apenas com suas músicas, mas com suas vidas. Deus pode ter dado a eles a oportunidade de compartilhar o Evangelho com pessoas que não seriam alcançadas de nenhuma outra maneira. Kerry Livgren e Dave Hope são dois artistas que têm feito a diferença nesse sentido. E existem muitos outros. Alguns cristãos servirão à igreja na igreja. Outros servirão à igreja fora dela. Ambos mostram através de suas vidas que Jesus é o único Salvador e o Soberano do Mundo.

De Genêsis ao Apocalipse em uma música de 50 minutos

Nem todas as músicas escritas e cantadas por critãos precisam expor todo o Evangelho.

Russ Bremeier, em uma de suas colunas Music Connection², escreveu:

"Algumas músicas falam explicitamente do Evangelho, e outras apenas plantam uma semente que pode levar ao Evangelho. Nossa arte é um reflexo da diversidade que somos como corpo de Cristo. Se ela é usada na igreja, no rádio, num programa de televisão, ou mesmo em um anúncio de 30 segundos, podemos ficar descansados sabendo que Deus pode usar a música que fazemos em inúmeras maneiras de servir a seus propósitos."


Pode haver músicas de todos os tipos, escritas sob a perspectiva daqueles que vivem à luz das alegrias e realidades do céu.

Eis o que importa: Conheça seu coração e procure fazer música para a glória de Jesus Cristo, não importa onde você a execute. Nossa arte não é sobre nós. Trata-se, em primeiro lugar, de chamar a atenção para o Deus que nos deu dons como a música. No final das contas, nenhum outro tipo de arte irá permanecer.


Traduzido gentilmente por Josiane Lima! | iPródigo |

quarta-feira, 23 de março de 2011

Declarações de Amor para Deus


Alguém criou a expressão “músicas ‘Deus é minha namorada’” para descrever as letras contemporâneas que expressam o amor a Deus com palavras que, por natureza, são românticas. Elas incluem frases como “abraça-me”, “deixe-me sentir seu toque”, etc. Embora essa não seja a primeira vez na história em que cânticos congregacionais foram rotulados como sensuais (John Wesley tinha alguns problemas com as letras de Charles Wesley, às vezes), essa é uma questão que ainda precisa de esclarecimento.

Por que alguém escreve músicas que podem ser cantadas tanto para Deus quanto para um amante humano? As razões variam. Talvez o compositor seja simplesmente um péssimo letrista que não conhece nada melhor. Pode ser uma tentativa de alargar os limites do lirismo poético. Também poderia ser uma tentativa de escrever canções “intercambiáveis” que são aplicáveis a contextos cristãos ou seculares. O problema é que nosso relacionamento com Deus é um pouco diferente (você poderia dizer infinitamente?) de nossos relacionamentos com os outros.

Outro grupo baseia seu uso do imaginário romântico em Cântico dos Cânticos – “Deixe-me conhecer os beijos de tua boca, deixe-me sentir teu abraço”¹. Entretanto, não há qualquer indicação fora de Cantares de que Deus deseja que cantássemos individualmente palavras como essas a nosso Deus e Salvador. (Para uma interpretação mais literal de Cântico dos Cânticos como uma celebração do romance matrimonial, sugiro que você leia Sexo, Romance e a Glória de Deus, de C.J. Mahaney).

Fiquei feliz de pegar a última edição da revista Worship Leader e descobrir que Matt Redman tratou esse mesmo tópico em um artigo chamado “Beije-me?”. Ele procurar responder a pergunta: “figuras românticas são apropriadas para as expressões congregacionais de adoração?”.

Como esperado, os pensamentos de Matt são humildes, claros, uteis e, mais importante, bíblicos. Ele compartilha a experiência de escutar o um CD de músicas de louvor próximo a um não-cristão.

Outro dia estava ouvindo um disco de louvor (que não identificarei!) bem alto – dentro do alcance do homem que limpa minhas janelas. Achei que talvez fizesse algum bem para ele ouvir algumas músicas de adoração. O que não percebi é que uma das músicas continha uma sequência de letras que pareciam românticas. Ao procurar o mais rápido possível o botão de pausa, percebi algo. Eu não estava com vergonha de Jesus, mas não estava nem um por cento convencido da maneira como, alguma vezes, nos aproximamos dEle. William Barclay tem uma opinião bem forte sobre isso: “o Novo Testamento jamais corre o menor risco de sentimentalizar a ideia de Deus”².

O potencial para o evangelismo o encorajou até que surgiu uma música com uma sequência de letras românticas. Ao pausar a música, Matt percebeu: “eu não estava com vergonha de Jesus, mas não estava nem um por cento convencido da maneira como nos aproximamos dEle”. Em seguida, ele acrescenta: “Algumas vezes, dentro das paredes da igreja, caímos no hábito de dizer ou fazer coisas que nunca faríamos se estivéssemos realmente em contato com o mundo. E, na verdade, isso é apenas um ponto secundário. O principal é se estamos ou não escrevendo e escolhendo músicas que são um eco verdadeiro do padrão da Escritura”.

Como a maioria das coisas, discernimento é mais sábio que simplesmente banir o uso de certas palavras como “belo” ou “abraçar”. Entretanto, cantar ou escrever palavras a Deus porque elas “expressam meus sentimentos” mostra-se um padrão ilusório. Deus importa-se com as palavras que usamos quando nos aproximamos dEle, e nossas palavras devem ser “um eco verdadeiro do padrão da Escritura”. Relacionamos-nos com Deus da maneira que Ele se revelou a nós ou de uma maneira que nossa cultura acha confortável? Nossas músicas descrevem Deus como Ele é ou procuram fazê-lo mais parecido conosco?

Encontramos o equilíbrio entre transcendência e imanência em Isaías 54.5: “Porque o teu Criador é o teu marido; o SENHOR dos Exércitos é o seu nome; e o Santo de Israel é o teu Redentor; que é chamado o Deus de toda a terra”. Esse verso nos mostra que, em nosso desejo de celebrar como Deus nos trouxe para perto por meio da cruz, nunca podemos nos esquecer de que Ele continua exaltado acima de toda criação. Ele não é nossa namorada; Ele é nosso Deus. Nossas canções nunca deveriam ser vagas sobre essa diferença. Como Matt nos lembra, “precisamos constantemente refletir nas maneiras em que nos dirigimos a nosso maravilhoso Deus”. Porque Ele realmente é maravilhoso.


¹ Música do compositor David Ruis. No original, “Let me know the kisses of your mouth, let me feel your embrace.”
² Esse trecho do Matt Redman não estava na versão original do texto de Bob Kauflin (por isso há até uma certa repetição nesse post). Incluí aqui para entendermos melhor o contexto da situação narrada. Você pode ler o artigo de Matt (em inglês) aqui.

Traduzido por Josaías Jr. | iPródigo

quarta-feira, 9 de março de 2011

Renato Vargens - Os Levitas



Desde que me converti tenho ouvido por parte de alguns líderes evangélicos que aqueles que ministram o louvor com música na Igreja são levitas do Senhor. Como já escrevi anteriormente algumas comunidades evangélicas tem uma enorme facilidade de judaizar o Evangelho de Cristo. Vale a pena ressaltar que em nenhum lugar do Novo Testamento encontramos a referência de que ministros de louvor, cantores ou instrumentistas sejam considerados como levitas do Senhor.

Dentro deste contexto gostaria de reproduzir parte do excelente artigo escrito pelo pastor Natanael Rinaldi, apologista do CAPC. Segundo Rinaldi o conceito de "levita” foi tomado por empréstimo de Israel e do Velho Testamento. Originalmente, "levita" significa "descendente de Levi", que era um dos 12 filhos de Jacó. Os levitas começaram a se destacar entre as 12 tribos de Israel por ocasião do episódio do bezerro de ouro. Quando Moisés desceu do monte e viu o povo entregue à idolatria, encheu-se de ira e cobrou um posicionamento dos israelitas. Naquele momento, os descendentes de Levi se manifestaram para servirem somente ao Senhor (Êx 32:26). Daí em diante, os levitas se tornaram ministros de Deus. Dentre eles, alguns eram sacerdotes (família de Aarão) e os outros, seus auxiliares. Embora os sacerdotes fossem levitas, tornou-se habitual separar os dois grupos. Então, muitas das vezes em que se fala sobre os levitas no Velho Testamento, a referência se aplica aos ajudantes dos sacerdotes. Seu serviço era cuidar do tabernáculo e de seus utensílios, inclusive carregando tudo isso durante a viagem pelo deserto (Números capítulos 3, 4, 8, 18).

Naquele tempo, os levitas não eram responsáveis pela música no tabernáculo. Muito tempo depois, Davi inseriu a música como parte integrante do culto. Afinal, ele era músico e compositor desde a sua juventude (I Sm 16:23). Então, atribuiu a alguns levitas a responsabilidade musical. Em I Crônicas (9:14-33; 23:1-32; 25:1-7), vemos diversas atribuições dos levitas. Havia então entre eles porteiros, guardas, padeiros e também cantores e instrumentistas (II Crônicas 5:13; 34:12).

Em se tratando o título levita ao Antigo Concerto não é próprio chamarmos os músicos e cantores como integrando um corpo ministerial estranho ao Novo Concerto, até porque, segundo as Sagradas Escrituras todos aqueles que confessam a Cristo foram feitos por Ele, reis e sacerdotes. Portanto afirmar que os músicos são levitas do Senhor afrontam de modo substancial o ensinamento bíblico e cristão.

Pense nisso!


Fonte: Púlpito Cristão.